sábado, 4 de junho de 2011

Conselhos a uma viajante dolorida


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Querido mr. Miles: vou poupá-lo dos detalhes, mas tenho pouco mais de 30 anos, acabo de sair de uma relação longa, mas sem projetos, e estou disposta a começar a vida em algum outro lugar do mundo. Adoro viajar, mas não gosto de locais quentes e tenho medo ficar deprimida em invernos longos demais. O senhor tem alguma sugestão de lugar onde eu pudesse voltar a buscar a felicidade?
Jana Gomes Meirelles, por e-mail



"Well, my dear Jana: sou melhor como contador de histórias de viagem do que, I presume, como consultor sentimental. Mas sei, porque aprendi com o grande psicanalista e velejador Nelson Dienstag, que o caminho que você pretende trilhar raramente conduz a algum lugar específico ou a uma solução para suas angústias.

Você pode até esquecer as malas em casa e viajar apenas com a roupa do corpo, para evitar carregar consigo qualquer lembrança física da pessoa de cujas memórias quer (quer mesmo?) escapar. Você pode, of course, escolher mudar-se para o outro lado do mundo, onde sempre haverá uma cidade bonita na latitude que condiz com suas aspirações climáticas.

Mas há um item que embarcará na sua companhia, clandestino e indesejado. Ele estará, quiçá, em sua nécessaire, no bolso de seu jeans ou no forro de sua jaqueta, como um intruso indesejado. Você o verá nos lagos aos pés do Himalaia, nas muitas igrejas da Morávia, nos aromas da Provença ou nos girassóis da Andaluzia.

Trata-se da dor que a levou a viajar. I"m very sorry, my dear, mas ainda que sair mundo afora seja uma experiência enriquecedora, as grandes decepções sempre viajam conosco. Yes, darling, todas as coisas ganham a dimensão adequada quando estamos longe de nossas referências mais próximas. Eis por que os problemas comezinhos do dia a dia, pequenas cizânias de trabalho e frustrações do cotidiano desaparecem num passe de mágica quando saímos de férias para recuperar energias.


However, das dores da alma não se pode simplesmente escapar pelo finger de um aeroporto. Otherwise, a indústria química não ganharia rios de dinheiro criando pílulas que prometem a felicidade e, unfortunately, raramente a entregam.

Se eu fosse você, dear Jana, não carregaria a sua dor para, sobre ela, construir uma nova vida. Acho, até, que você pode levá-la para passear, para testar se a beleza de novas descobertas não a torna menos desagradável, ainda que seja assim apenas por alguns momentos.


Melhor ainda seria se você viajasse com uma pessoa amiga, para trocar impressões, fotos e sorrisos eventuais. O luto por alguém que deixou a sua vida (oh, my God, estou me tornando piegas!), tem o mesmo comportamento de um viajante. Deixa marcas, evoca lembranças. Mas é sempre passageiro.
Do you know what I mean?"



Retirei do blog www.odeporica.blogspot.com/2010_07_01_archive.html

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