Amoreiras
rústicas, resistentes e... medicinais!
Por: Rose Aielo Blanco*
"Vou contar para o seu pai que você namora, Vou contar pra sua mãe que você me ignora,
Vou pintar a minha boca do vermelho da amora, Que nasce lá no quintal da casa onde você mora..."
Como bem descreve a música Amora,
de Renato Teixeira, até pouco tempo atrás era bastante
comum a presença de uma amoreira no quintal das casas.
Rústicas, resistentes e de fácil cultivo, eram a garantia
de frutos doces e deliciosos para alegria de crianças e adultos.
Com o passar do
tempo (e com o fim dos quintais), as amoreiras passaram a
ser vistas como plantas silvestres. Seus frutos, delicados e perecíveis,
não são capazes de sobreviver à aventura de sair do campo
e chegar aos supermercados e, assim, as amoras foram
gradualmente ficando na doce lembrança de quem tinha o
privilégio de degustá-las ali mesmo, ao lado da árvore.
Entretanto, com o
recente e crescente interesse pelas plantas medicinais, a amoreira
vem despertando a curiosidade e ganhando espaço na mídia pelas
suas propriedades que estão sendo comprovadas em estudos
científicos realizados em vários países.
As amoras
pertencem à família das Moráceas que abriga espécies bem variadas
e produzem frutos bem diferentes entre si. Nesta família, além
das amoras, encontramos os figos e até a jaca!
As espécies de amoreira mais cultivadas são Morus alba (amora-branca), Morus rubra (amora-vermelha) e Morus nigra (amora-preta) foto ao lado. Dentre essas espécies destaca-se a Morus alba,
conhecida também como amora branca. Trata-se de uma planta
perene, rústica, que se adapta com facilidade aos mais variados tipos
de solo, desde que não sejam alagadiços. O solo ideal deve
ser fértil, aerado e com pH em torno de 6,5. Suas raízes
são capazes de atingir boa profundidade, de forma que
alcançam água em camadas mais profundas, o que ajuda a
garantir hidratação mesmo na estação seca.
Dentre os diversos cultivares de Morus alba existentes no Brasil, destacam-se a variedade Miura e os híbridos FM 86 e Shima Miura,
cujas principais características são a precocidade
vegetativa, folhas de boa qualidade e o fato de apresentarem boa
propagação por estaquia. A variedade Miura (amora miura) é considerada uma das melhores variedades entre as cultivadas.
Além de apresentar alto teor de proteína, as folhas da amoreira branca (Morus alba L.)
são totalmente livres de toxicidade e ainda apresentam
propriedades capazes de diminuir o nível de glicose no
sangue, auxiliar a reduzir a hipertensão, são diuréticas e indicadas
popularmente para o tratamento do colesterol alto.
Por serem muito
nutritivas e apresentarem alto teor de proteína, as folhas
da amora branca são utilizadas como o único alimento do bicho-da-seda
da amoreira (Bombyx mori) em sua fase inicial de vida.
O assunto é bem
interessante, pois as amoreiras têm uma história muito
ligada à fabricação da seda. Tudo começa com uma lenda sobre a
descoberta da seda indicando que esta ocorreu por acaso,
quando uma imperatriz chinesa, por volta de 2.600 a.C.,
tomava seu chá embaixo de uma amoreira, nos arredores do
seu palácio: um casulo do bicho-da-seda teria caído dentro
da sua xícara de chá fervendo e ela percebeu que por estar
amolecido, o casulo poderia ser desenrolado, formando um fio.
Os chineses tiveram
exclusividade na fabricação da seda por cerca de 3 mil
anos. O governo chinês, ciente do valor comercial da seda,
proibia a exportação de ovos de mariposas e sementes de amoreiras,
chegando a condenar à morte os considerados traficantes.
Conta-se que os europeus só romperam este bloqueio quando
um imperador romano enviou espiões disfarçados de monges à
China, que conseguiram esconder alguns ovos de
bicho-da-seda dentro de bambus e os levaram para a Europa.
Aqui no Brasil,
embora as primeiras amoreiras tenham sido plantadas em
Minas Gerais, por ordem de dona Maria I, a Louca, mãe de D. João VI,
que reinou de 1777 a 1792, a produção de seda iniciou-se
efetivamente apenas no Segundo Reinado.
Deliciosamente medicinal
Morus rubra
Todas as espécies de
amoras são ricas em vitamina C e antocianinas - flavonóides
bioativos com poderosa ação antioxidante. A amora tem em sua
composição água (85%), proteínas, fibras, lipídios e
carboidratos, além de cálcio, fósforo, potássio, magnésio,
ferro, selênio e várias vitaminas. Isso tudo com baixo
valor calórico: são apenas 52 calorias em 100 g de fruta.
Na amoreira são
encontradas também substâncias como os fitoquímicos, ou
compostos secundários. Estas substâncias são produzidas naturalmente
pelas plantas para se protegerem do ataque de pragas e
doenças, além de ajudar a planta a se adaptar às condições
adversas do ambiente. Muitos destes fitoquímicos atuam na
prevenção e no combate de doenças como o câncer e as
doenças cardiovasculares.
Na medicina
natural, são relatadas outras propriedades da amoreira, como
o efeito emagrecedor; amenizador da tensão pré-menstrual e sintomas
da menopausa; efeito desintoxicante e antioxidante,
prevenindo contra a ação dos radicais livres. Além disso,
já são famosas suas propriedades como auxiliar em
problemas como diabetes, pressão alta e mau colesterol
elevado.
Todas as partes da planta - frutos, folhas, casca e raiz - são utilizadas na medicina popular:
* A infusão ou o
suco do fruto são usados em gargarejos e bochechos contra
aftas, amigdalite e dor-de-dente;
* A decocção da
casca e das raízes são indicadas contra problemas de
estômago, intestino e também como vermífugo;
* A infusão das folhas é considerada excelente diurético, além de agir contra a hipertensão. Também é usada em massagens no couro cabeludo para combater a queda de cabelos, sendo que este efeito pode ser potencializado com a ingestão do chá.
* O xarope é usado para combater a tosse e a irritação da garganta;
* O cataplasma preparado com as folhas é utilizado contra eczemas, erupções cutâneas;
* O banho preparado com o chá das folhas é considerado revigorante.
Dicas de cultivo
A amoreira teve
provável origem na China ou Índia. Pertence à família das
Moráceas e ao gênero Morus, que possui cerca de 950 espécies.
A temperatura ideal para o desenvolvimento da amoreira situa-se
entre 24 e 28 graus C. Temperaturas abaixo de 13 graus
podem prejudicar fortemente o desenvolvimento da planta. O
solo indicado deve possuir boa profundidade, alto teor de
matéria orgânica e textura média.
As mudas de
amoreira podem ser obtidas por sementes, estacas, enxertia
e mergulhia. A melhor época para o plantio da amoreira é o início
da primavera. Quanto à adubação, é recomendável a orgânica,
pois além de fornecer nutrientes à planta, ainda
proporciona a melhoria das propriedades físicas do solo e
facilita o desenvolvimento de microorganismos. Como
sugestão, pode-se aplicar uma mistura de esterco de curral curtido,
farinha de osso e torta de mamona.
Não é
recomendável fazer poda ou colheita antes de 6 meses a contar
do plantio, para que seja permitido que a planta desenvolva seu
sistema radicular e estabilize seu desenvolvimento. Além
disso, não é indicada a aplicação de inseticidas ou outros
produtos químicos, uma vez que a amoreira é uma planta
bem rústica e resistente.
Curiosidades sobre a amoreira
* Segundo Ornato
José da Silva, autor do livro Ervas e Raízes Africanas, a
amoreira branca é uma planta utilizada nos ritos africanos para
limpeza energética. Suas folhas teriam o poder de captar, a
partir do raiar do sol, toda a negatividade que é expelida
à noite, logo após este se pôr.
* O primeiro papel introduzido no Japão foi originário da Coréia e era feito de amoreira.
* As amoreiras
eram bem conhecidas pelas antigas civilizações. Eram
famosas em razão dos deliciosos frutos, pelo rápido crescimento e
também pela grande quantidade de folhas verdes que eram
consumidas pelos animais.
*Pesquisadores
da Universidade de Scranton, na Pensilvânia (EUA), constataram que
a ingestão de suco de amora, três vezes ao dia, pode aumentar
significativamente a taxa de colesterol bom no sangue,
reduzindo os riscos de doenças do coração.
* Na Europa do
século XVI, era costume utilizar tanto os frutos, como as
folhas e a casca da amoreira. O fruto era usado contra inflamações
e hemorragias; a casca contra as dores de dente e as folhas
para tratar picadas de cobras e como antídoto para o
envenenamento por acônito.
* A amoreira
branca é muito usada na China para tratar tosse, resfriados,
dores de cabeça, irritação da garganta e pressão alta. No conceito
chinês de Yin e Yang, a amora branca é usada para dissipar o
calor do canal do fígado, evitando irritação nos olhos,
elevando o estado de ânimo e refrescando o sangue. É,
portanto, considerada um tônico Yin.
* A amora em
alemão é chamada "maulbeerbaum"; em espanhol é "moral"; em
francês é "murier"; em italiano é "gelso" e em inglês
seu nome é "mulberry".
* Na mitologia
grego-romana a amoreira era dedicada à deusa Minerva/Athena.
Muito apreciada nos banquetes romanos, o uso da amora foi mencionado
por Ovídio, Horácio e Virgílio. Além disso,
foram encontradas representações da amoreira nas ruínas de
Pompéia.
*
Existe uma lenda que relata o surgimento das amoras
vermelha e negra a partir da amoreira branca. Segundo o
poeta Ovídio, dois jovens - Píramos e Tisbe - estavam
apaixonados, mas suas famílias, que eram inimigas, não
permitiam sua união. Um dia, eles decidiram fugir e
marcaram um encontro fora da cidade, embaixo de uma grande
amoreira branca. Tisbe chegou primeiro e avistou ali
perto uma leoa com a boca suja do sangue da caça que acabara
de comer. Apavorada, ela saiu correndo, deixando cair seu véu
que, dilacerado pela leoa, ficou sujo de sangue. Quando Píramos
chegou e encontrou o véu de Tisbe rasgado e marcado de
sangue, desesperou-se e, pensando que sua amada estava
morta, atravessou seu peito com a própria espada. Seu
sangue jorrou e atingiu a amoreira branca. Quando Tisbe
voltou e encontrou seu amado morto, pegou a espada e
também atingiu o próprio coração. Naquele momento, os
frutos da amoreira branca que foram atingidos pelo sangue
tornaram-se vermelhos - quase negros - dando origem às amoras
vermelha e negra. Por essa razão, acredita-se que o bicho-da-seda
só se alimenta da espécie Morus alba (amora branca)
porque esta ainda estaria purificada, sem a marca da tragédia
dos dois jovens amantes.
* Em tempos
antigos, as amoras eram usadas como maquiagem, com a função
de ruborizar a face, como um rouge, ou blush.
Retirado do Blog http://www.jardimdeflores.com.br/floresefolhas/A45amora
* Rose Aielo Blanco é jornalista e editora do www.jardimdeflores.com.br
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