Como é bom ser gato!
Gatos, aparentemente mansos e inquietantemente calmos, podem
subir em árvores, confiar numa mão desconhecida com pão, mingau de arroz ou
um prato improvisado transbordando leite.
Como é bom ser gato!
De noite, até os pardos, podem mudar os canais só por
encostarem-se nas antenas de TV. Seus olhares, de gato, verticais, vêm a
cidade de cima como se os telhados fossem horizontais. E, ao sentirem um
ronronar na esquina, onde a luz do poste veste néon, viram cinza mesmo que
chova, armam a cabeça do pênis qual um guarda-chuva que arranha, batem e
apanham no mais inquieto momento de amor.
Como é bom ser gato!
De tarde, até os brancos, com jeito de sacana, deixam-se
acarinhar pelas avós com mais de sessenta anos. Não há mais tricô nem
novelos. No ar um som de um romantismo caipira e uma vontade suicida
enquanto a música acontecer. Ainda bem que gatos têm sete vidas.
Como é bom gato ser!
Podem fumar, comer a vontade, beber sem se preocupar se o pulmão
está perfeito, o estomago comportado ou o fígado regenerado. Apesar do
entendimento de saber o quanto é maravilhoso ser gato, é necessário ter
muito cuidado, até os negros, com as noites das sextas-feiras, com as
escadas, com os pés desumanos que pisam sem a mesma maciez das suas patas.
Como ser gato é bom!
Precisam ter muito cuidado ao perceber que as gatas até falam.
Driblarem com o corpo os dizeres românticos das que esperam duplex: um
telhado revestido com boas telhas de piso e um sótão próximo do céu.
Como é bom ser gato!
A única coisa permanente nos hábitos desses estranhos
vira-latas, é saber, mesmo inconsciente, que outros donos chegarão e
aplacarão, momentaneamente, todas as sete fomes
Como é bom ser gato!
Mesmo sem residência fixa, todos são bem achados não importa
aonde: seja na rua, na sala, no teto ou no porão.
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